“Nós, os punks, estamos movimentando a periferia – que foi traída e esquecida pelo estrelismo dos astros da MPB. Movimentando a periferia, mas não como Sandra de Sá, que agora faz sucesso com uma canção racista e com uma outra que apenas convida o pessoal para dançar: ou, na verdade, o convida para a alienação. Nos nossos shows de punk rock, todos dançam; dançam a dança da guerra, um hino de ódio e de revolta da classe menos privilegiada. Já Guilherme Arantes diz que é feliz, mesmo havendo uma crise lá fora, porque não foi ele quem a fez; nós também não fizemos esta crise, mas somos suas principais vítimas, suas vítimas constantes – e ele não. Nossos astros da MPB estão cada vez mais velhos e cansados, e os novos astros que surgem apenas repetem tudo que já foi feito, tornando a música popular uma música massificante e chata. Mesmo assim, eles ainda conseguem fazer o povo chorar. Não sei como, cantando a miséria do jeito que eles a veem, do alto, mas que não sentem na carne como nós. E também choram de alegria quando contam o dinheiro que ganham. Nós, os Punks, somos uma nova face da Música Popular Brasileira, com nossa música não damos a ninguém uma idéia de falsa liberdade. Relatamos a verdade sem disfarces, não queremos enganar ninguém. Procuramos algo que a MPB já não tem mais e que ficou perdido nos antigos festivais da Record e que nunca mais poderá ser revivido por nenhuma produção da rede globo de televisão. Nós estamos aqui para revolucionar a Música Popular Brasileira, para dizer a verdade sem disfarces (e não tornar bela a imunda realidade): Para pintar de negro a Asa Branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer.”(Manifesto Punk de 1982 por Clemente e Tadeu Nascimento)
O COMEÇO DO FIM DO MUNDO:
Organizado por Antônio Bivar e Callegari no SESC Pompéia em São Paulo, nos dias 27 e 28 de novembro de 1982, no ano mais forte do movimento punk em São Paulo, o evento foi proposto com o objetivo de firmar a união entre grupos e facções punks, da capital e do ABC paulista, que vinham envolvendo-se em conflitos cada vez mais violentos. O festival contou com exposição de material (discos, fanzines, filmes), shows de bandas e os próprios punks na organização e no público. No total, 20 bandas se apresentaram, e o evento contou com 3.000 visitantes. Enquanto no primeiro dia não se registraram distúrbios, no segundo dia a polícia invadiu o evento para queimar documentos relacionados à ditadura, com a super lotação a polícia reprimiu varias pessoas.Também existiu alguns conflitos.O festival foi gravado em tape-deck, do qual saiu um álbum em LP, que muitos anos mais tarde foi relançado em CD. A qualidade das gravações e principalmente das bandas é sofrível em alguns aspectos, mas há faixas que tornaram-se marcantes na história de alguns dos grupos, além de, pelo todo, ser um disco importantíssimo e histórico. A banda Ulster se recusou a sair na edição original do álbum, pois segundo eles, foram prejudicados na qualidade da gravação. Sua música, “Heresia”, saiu no relançamento em CD como faixa bônus.
Unknown
sexta-feira, 3 de abril de 2015